quinta-feira, abril 26, 2007

Microconto III - Da relatividade

O burro ia lá adiante. O esperto dormia debaixo da árvore.

quinta-feira, abril 19, 2007

Microconto II - Para qualquer lugar.

Se no Brasil tivesse trem - pensou - mudava de vida num instante.

quinta-feira, abril 12, 2007

Microconto I - Vive la révolution!

A revolução teve inicio. Mas não estava certa. Resistiriam.

domingo, abril 08, 2007

Olhos estrangeiros

Alguém me segue. Desde que saio de casa, pela rua, alguém me persegue. No trabalho, alguém me olha.

São olhos estranhos e apontam pra fora. Mas eu não sei pra onde. Estou preso ao computador, ao assento do ônibus, aos óculos de grau.

Alguém me persegue, me olha, me observa.

E eu me escondo embaixo de grossas cobertas, e fico na cama o dia inteiro. E não saio até que me ache o perseguidor.

Por favor, que seja logo.

domingo, abril 01, 2007

Olho da Serra

Os boatos envolvendo Olho da Serra foram todos espalhados por seus próprios habitantes, não se sabe se com o intuito de fazer com que a cidade fosse lembrada ou esquecida pelo resto do mundo. De qualquer forma, eles acabam servindo um pouco para as duas coisas. Tanto fazem com que as pessoas falem cada vez mais das histórias de Olho da Serra, quanto que tomem-na por lugar incerto e misterioso; e poucos são os que chegam, hoje em dia, a ir ali.

A última das histórias que correu pela região, foi a de que Olho da Serra seria invenção de trovador e nunca teria existido de verdade. Instalaram-se, então, discussões intermináveis pelos botecos e feiras da redondeza. Ao que alguns juravam de pé junto haver, em outros tempos, visitado a cidade e até testemunhado vários dos casos místicos que ali se passaram, outros tomavam-nos por contadores de histórias sem o menor crédito, e o debate não se encerrava nunca, e ninguém saía convencido de coisa nenhuma. Mas o mais interessante sobre esse boato é que ele não foi inventado pelos moradores de Olho da Serra. Ao menos não no sentido lato da palavra inventar. Eles realmente acreditavam nisso, que a cidade onde moravam não existia.

Cidade é realmente um termo muito grande para descrever aquele povoadinho escondido no alto da Serra, mas não é aí que o problema reside. O que se passou foi que o lajedo sobre o qual se construiu a cidade começou, não se sabe por que estranho processo físico, a refletir a luz. A princípio bem pouquinho, e com o tempo cada vez mais, chegando o chão de Olho da Serra a parecer um grande espelho polido que refletia o céu. Os moradores entenderam aquele fenômeno como um desaparecimento gradual da cidade e começaram a espalhar por aí que esta não existia mais. O hábito de fazer circular boatos fez com que alguns espalhassem um pouco mais, que a cidade nunca haveria existido.

E o visitante que chega, hoje, a Olho da Serra toma um susto. Com o céu todo refletido no chão, parece andar sobre si mesmo, deslizando no vazio do espaço. Qualquer empurrãozinho poderia derrubá-lo no infinito, e até que se acostume, mal consegue tirar os pés do chão. Houve alguns casos de pessoas que se recusaram a entrar na cidade com medo de cair, sem acreditar no que os olhos viam. E um homem apressado entrou certa vez, correndo, na cidade e só foi perceber lá adiante que tinha o céu nos pés. Tamanho foi o susto que ele enfartou e caiu morto na hora, sem mais urgências, nem compromissos.

Já os habitantes de Olho da Serra, acabaram por se acostumar com o fato. E tiveram tempo o suficiente pra isso, já que o chão não virou espelho do dia para a noite. Hoje em dia, quando anoitece, eles se deitam todos do lado de fora das casas, e ficam soltos no espaço contemplando as estrelas de um céu que já não sabem mais onde começa e nem onde termina.