Sonâmbulo
Abriu
o olho novamente e já não estava no avião. Suas pernas o levavam
decididas para algum lugar desconhecido. Ainda um pouco sonolento, se
recordou de que tinha pousado, recolhido a bagagem na esteira e tomado
um taxi até o centro, que tinha dado ao taxista uma nota de cinquenta e
recebido vinte e sete rais de troco. Não se lembrava, porém, que centro
era esse, nem porque ia para lá.
Por um momento teve dúvidas se teria ainda o controle do próprio corpo, mas com menos que um pensamento, foi capaz de parar. Assustado com a força da própria determinação, deu uma rápida olhada em volta e seguiu andando, agora um pouco mais deselegante, um pouco mais devagar, um pouco menos decidido. "Para onde devo ir, agora que estou novamente no comando?" Andou mais alguns passos e, sem saber o que fazer com a própria liberdade, decidiu sentar-se no banco.
Mais uma vez se lembrou do avião, da bagagem, do taxi. Lembrou ainda da noite anterior, do copo de whisky, do maço de cigarros, do vestido que escondia muito pouco, na mesa ao lado, do olhar de relance. Teve que conter o sorriso, pois alguém podia estar olhando. Não é pertinente rir a toa num banco de praça, em plena segunda-feira. Deixasse o riso para a noite, ou, melhor, para o fim de semana.
Mergulhava mais uma vez em divagações. A pertinência do sorriso, a noite anterior, o troco do taxi, não deixaram que percebesse as próprias pernas, que se punham novamente em movimento. Dessa vez não quis impedí-las. Foda-se, pensou, lembrando o desconforto de minutos atrás. Foi assim que ele assistiu suas mãos chamarem o elevador, seus pés o levarem à sala de reuniões. Quase sentiu cócegas quando o ar fez tremer suas cordas vocais e ficou intrigado tentando compreender as palavras que proferia, todas encadeadinhas, como que ensaiadas. Seus olhos se fecharam por dentro enquanto os demais presentes proferiram seus discursos ininteligíveis, suas mãos aplaudíram sozinhas e quando se deu por si, já estava no quarto do hotel, zapeando automaticamente por programas de televisão que lhe interessavam um menos que o outro.
Naquela noite, sonhou que era sábado, e que ia para o trabalho. Sonhou um sonho esquisito, contínuo e sem nenhuma névoa, nem uma gota de fantasia. Sonhou que sabia o que estava fazendo, e que lia relatórios, que fazia contas de dividir e de multiplicar, que anotava os resultados em tabelas complicadas, analisava os resultados e os comentava ao telefone. Chovia do lado de fora, mas não havia tempo. E acordou cansado, mais uma vez.
Por um momento teve dúvidas se teria ainda o controle do próprio corpo, mas com menos que um pensamento, foi capaz de parar. Assustado com a força da própria determinação, deu uma rápida olhada em volta e seguiu andando, agora um pouco mais deselegante, um pouco mais devagar, um pouco menos decidido. "Para onde devo ir, agora que estou novamente no comando?" Andou mais alguns passos e, sem saber o que fazer com a própria liberdade, decidiu sentar-se no banco.
Mais uma vez se lembrou do avião, da bagagem, do taxi. Lembrou ainda da noite anterior, do copo de whisky, do maço de cigarros, do vestido que escondia muito pouco, na mesa ao lado, do olhar de relance. Teve que conter o sorriso, pois alguém podia estar olhando. Não é pertinente rir a toa num banco de praça, em plena segunda-feira. Deixasse o riso para a noite, ou, melhor, para o fim de semana.
Mergulhava mais uma vez em divagações. A pertinência do sorriso, a noite anterior, o troco do taxi, não deixaram que percebesse as próprias pernas, que se punham novamente em movimento. Dessa vez não quis impedí-las. Foda-se, pensou, lembrando o desconforto de minutos atrás. Foi assim que ele assistiu suas mãos chamarem o elevador, seus pés o levarem à sala de reuniões. Quase sentiu cócegas quando o ar fez tremer suas cordas vocais e ficou intrigado tentando compreender as palavras que proferia, todas encadeadinhas, como que ensaiadas. Seus olhos se fecharam por dentro enquanto os demais presentes proferiram seus discursos ininteligíveis, suas mãos aplaudíram sozinhas e quando se deu por si, já estava no quarto do hotel, zapeando automaticamente por programas de televisão que lhe interessavam um menos que o outro.
Naquela noite, sonhou que era sábado, e que ia para o trabalho. Sonhou um sonho esquisito, contínuo e sem nenhuma névoa, nem uma gota de fantasia. Sonhou que sabia o que estava fazendo, e que lia relatórios, que fazia contas de dividir e de multiplicar, que anotava os resultados em tabelas complicadas, analisava os resultados e os comentava ao telefone. Chovia do lado de fora, mas não havia tempo. E acordou cansado, mais uma vez.