No meio do bosque havia uma grande pedra, toda coberta de musgo. Em volta dela, árvores altíssimas das quais pendiam cipós e raízes que alcançavam o chão. O sol penetrava com certa diculdade, ainda que fosse meio dia; a penumbra multiplicava sombras e realidades. Ao largo, um homem se aproximava devagar, abrindo espaço por entre arbustos menores, cipós e troncos seculares. Estava exausto.
Sobre a pedra havia um prato de comida cuidadosamente preparada e arrumada, cujo cheiro se espalhava e preenchia todo o bosque. Mas a aproximação se tornava mais difícil a cada passo. Era como se os espinhos se multiplicassem, arranhando suas pernas, como se o mato crescesse ao redor dos seus pés e o terreno fosse se tornando mais movediço. Mas ele continuava firme. Seguia movido por aquele resto de força que geralmente nem sabemos ter, mas que vêm à tona no momento em que a esperança reaparece.
A cansativa jornada provavelmente não passou dos 200 metros, mas pareceu-lhe ter durado um dia inteiro. Quando finalmente alcançou a pedra, levou a comida à boca com ansiedade. Ignorando a presença dos talheres, dos guardanapos de seda, do prato de porcelana chinesa, pegou o bife com a mão e o levou à boca.
Sentiu o sangue lhe reaver as forças e pouco a pouco foi recuperando os sentidos. Tanto que quando estendeu a mão para pegar o resto da comida, não havia mais prato, nem talheres e nem bife, mas os pedaços de um coelho que ele havia de ter estraçalhado segundos antes. Não se deteve.