Microconto XXIV - Estímulo
Sua cor preferida era o violeta. Embora fosse cego, esta lhe soava melhor aos ouvidos.
Quase é o pouco que me falta pra que tudo dê certo. É a infinita distância que liga os dois pontos ou a mínima que os separa para sempre. O mundo é feito de quases.
No meio do bosque havia uma grande pedra, toda coberta de musgo. Em volta dela, árvores altíssimas das quais pendiam cipós e raízes que alcançavam o chão. O sol penetrava com certa diculdade, ainda que fosse meio dia; a penumbra multiplicava sombras e realidades. Ao largo, um homem se aproximava devagar, abrindo espaço por entre arbustos menores, cipós e troncos seculares. Estava exausto.
Um carro desgovernado atravessou a rua. O sinal estava vermelho. Freios. Buzinas. Pessoas se jogam no chão. Não deu para ver o condutor através do vidro esfumeado, tudo aconteceu muito rápido. O carro sumiu depois da curva. As pessoas foram se levantando, alguns gritando que isto era um absurdo, outras rindo de susto. Os carros parados se puseram outra vez em movimento, os motoristas olhavam estupefatos e recomeçavam devagar.